Entrevista: Lucas Bento (Estúdio Míssil / Altroz)
Voltando com nosso espaço para entrevistas, hoje conheceremos um pouco mais de Lucas Bento, músico e produtor musical gaúcho.
Em ascensão, e agregando à cena local música de qualidade através de sua banda atual Altroz, do projeto solo Codinome Bento, Lucas também está à frente do Estúdio Míssil, produzindo o som da galera underground e ajudando a fomentar a música independente.
Entrevista: Lucas Bento
LOFI IN HIGH: Primeiramente seja bem-vindo ao LOFI IN HIGH e parabéns por ser resistência e persistir com a produção musical em um país como o nosso, alienado e sem incentivo quanto às cenas culturais independentes pelo Brasil à fora. Conte-nos um pouco da sua trajetória, referências e como a música fez parte na sua caminhada até aqui.
Lucas Bento: Primeiramente, obrigado pelo espaço e posso dizer com tranquilidade que o sentimento de admiração pelo trabalho de vocês é recíproco.
Eu venho de uma família extremamente musical de todos os lados, então desde criança tenho contato com música nos encontros de família. Meu pai tocava diversos instrumentos de percussão e as festas por lá eram focadas em samba. Já na parte da família da minha mãe tinham alguns primos dela que faziam parte de uma banda bem relevante na cena rock gaúcha dos anos 70.
A “chave” virou pra mim em 2000/2001 com a febre do skate e a trilha sonora de Tony Hawk Pro Skater, que foi de onde veio grande parte das minhas influências até hoje, como Dead Kennedys, Minor Threat, Bad Religion e por aí vai. Nessa mesma época surgiram as primeiras bandas da escola com os amigos e estamos aí até hoje.
LOFI IN HIGH: Você já participou em diferentes projetos (Cáfila, etc.), e atualmente dá voz para a Altroz, sua atual banda, onde inclusive trabalhou toda a produção do EP “Ponto de Partida” lançado em 2021. O que seus projetos anteriores agregaram na produção do EP e da Altroz em si? O que levou a produzir os próprios sons, desejo ou necessidade?
Lucas Bento: Quando a Cáfila se encerrou eu estava determinado a seguir apenas produzindo e, em hipótese alguma, não me passava pela cabeça montar outra banda.
Então o Juan Patric (Jp), ex-baixista da Cáfila, que na época tocava na Antro Norte, banda a qual eu produzi, junto do guita Angelo Rossoni e do batera Diego Hertzog, também da Antro Norte, me convenceram a voltar a tocar e essa junção se tornou a Altroz. Esse foi um dos fatores de influência.
O outro, é que desde o primeiro momento queríamos buscar algo diferente das duas bandas anteriores, e como a produção nunca foi uma questão para a banda, rolou natural, pois na época eu já produzia algumas coisas, então pensamos: “porque não?” Hahaha
Mas com certeza foi uma mistura de vontade e necessidade da banda como um todo.
LOFI IN HIGH: O quanto a pandemia oriunda da COVID-19 atrapalhou os planos de muita gente, realmente não está escrito. Vínhamos em uma expansão enquanto cena musical, shows aconteciam com bandas independentes em locais públicos ou acessíveis a galera mais underground e tudo deu uma estagnada. O quanto isso afetou o desenvolvimento dos seus trabalhos, da Altroz e qual a possibilidade de novidades e volta de apresentações ao vivo?
Lucas Bento: Sem dúvidas isso foi e tem sido duro. Para nós, como banda, tiveram dois lados.
O lado bom foi a oportunidade de lançar o EP em uma época onde muita gente estava voltada a ouvir música e isso nos ajudou a ter uma atenção maior sobre nosso som, o que em um outro momento talvez não ocorreria da mesma maneira. O lado ruim é que até o momento não tivemos a oportunidade de apresentar o EP ao vivo, pois nos shows anteriores à pandemia tocamos os singles e alguns covers, mas não as músicas do EP.
No dia 10 de abril voltaremos com a nova formação em um festival chamado Inimigo Fest, além de outro organizado pela galera do canal do YouTube Metal Bagual, no final do mês de abril.
Lançamos também dia 25 de fevereiro, o single comemorativo dos 40 mil plays da banda no Spotify. A música “Daqui pra frente“, que no EP é uma canção acústica, ganhou uma versão plugada mais com a cara da banda, além de ter sido gravada pela nova formação.
Essa foi a forma que encontramos de retribuir todo mundo que se empenhou em nos ouvir.
LOFI IN HIGH: Conte-nos um pouco mais sobre Codinome Bento, seu projeto solo, que recentemente lançou o novo som “A Cidade, as Cores e a Solidão“. Para você é uma fuga, letras intimistas que não cabem em outros projetos, ou uma forma de você experimentar consigo mesmo coisas novas?
Lucas Bento: O Codinome Bento foi a forma que encontrei para externalizar sonoridades e letras muito mais pessoais e para mostrar que não me rotulo apenas em um gênero musical, mas que transito por diferentes caminhos.
O Codinome é um projeto muito mais livre e mutável, nele exponho o meu eu por completo, é onde eu deposito sentimentos mais pesados, eu brinco que é a minha fogueira de queimar traumas hahaha.
LOFI IN HIGH: Estúdio Míssil e Míssil Discos, poderia nos falar um pouco a respeito? Sempre foi um plano ter um estúdio próprio ou foi como uma oportunidade que surgiu e você abraçou com maestria? Qual a principal missão com um selo próprio?
Lucas Bento: Meu primeiro contato direto com gravação se iniciou em 2007 quando tive uma banda (Ninedust) junto com o Wes di Castro, atualmente Drop Alien. Algum tempo depois, por um breve período, voltamos a tocar juntos na Lekhaina. Nessa época o Wes já entendia muito de gravação e, como eu era o amigo chato que perguntava tudo, acabei aprendendo algumas coisas com ele, mas só fui produzir minhas primeiras músicas por volta de 2013.
Em 2018 entrei para o time de produtores do Estúdio Suminsky e depois, em 2019, veio a pandemia que acabou ceifando o meu trabalho e dos outros produtores do estúdio. E foi quando eu estava no Suminsky que surgiu o selo, pois trabalhando em um estúdio comercial eu precisava lançar as músicas produzidas por lá.
Em seguida, com o hiato dos trabalhos, comecei a montar meu próprio estúdio e, mesmo com o convite do Thiago para voltar recentemente, preferi seguir meu próprio caminho. A missão do selo é diminuir a distância entre os artistas e as plataformas que dão sempre um suporte maior ao mainstream e esquecem do underground.
LOFI IN HIGH: Junto ainda ao estúdio temos o MíssilCast, podcast onde você dá mais espaço para as bandas do selo apresentarem seu trabalho, além de tratar de assuntos sobre produção e cena musical. Seria uma forma também de retribuir o conhecimento que você adquiriu até então? Quando teremos e o que podemos esperar para os novos episódios?
Lucas Bento: Os meus amigos e clientes do estúdio já sabem que eu sou um tutorial humano hahaha, pois gosto de explicar em detalhes assuntos que tenho domínio e que pessoas próximas tenham interesse em conhecer mais sobre. Acredito ser muito importante compartilhar as coisas que já conhecemos. Se hoje posso viver de produção, foi porque tive muitos amigos que fizeram isso por mim e retribuo auxiliando outras pessoas, seria injusto não devolver isso para o universo.
Com relação ao podcast, esse mês, ou no outro, terá lançamento de episódio novo. Inclusive tuas dicas estão anotadas aqui na checklist da minha sala, pois gostei muito delas, obrigado mesmo! Gostaria de ter uma periodicidade melhor nessa parte, mas o estúdio toma bastante o meu tempo.
LOFI IN HIGH: Lucas, muito obrigado pelo seu tempo e parabéns novamente pelo seu trabalho. Deixamos o espaço então para contar como as pessoas podem acompanhar você, escutar seus projetos e entrar em contato para produção junto ao Estúdio Míssil.
Lucas Bento: Cara, eu que agradeço pelo convite e pelo trampo que vocês fazem, isso aqui nos dá mais gás para continuar! Pode acreditar! Segue as redes abaixo:
- @eusouumalvo – perfil pessoal
- @altrozbanda – banda
- @estudiomissil – estúdio
- @missildiscos – selo
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CHEERS!
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