EX-LUX é o novo e sublime disco da EX
EX – EX-LUX (álbum) – 2016
A banda EX é da capital gaúcha Porto Alegre e é formada por ex-integrantes da decana e cult banda do cenário alternativo Deus e o Diabo, junto a novos companheiros que foram convidados a compartilhar os mesmos ares e criar arte em forma de música.
Como sucessor do seu disco “Ainda” de 2007, o grupo porto-alegrense acabada de finalizar e disponibilizar o seu novo full album, “EX-LUX“!
“EX-LUX” sai pela saudosa Lezma Records e tem produção de Thomas Dreher, Guilherme Klamt, Thiane Nunes e Rafael Martinelli.
Como estratégia de divulgação e uma forma de atrelar mais significado para cada uma das faixas, as músicas de “EX-LUX” foram disponibilizadas uma a uma ao longo de 2016, onde cada canção recebeu uma determinada cor para representá-la. Agora, todas as faixas foram compiladas em um único lançamento, que em conjunto com a inédita “Segundo andar“, forma o conceito de álbum, recebendo por fim a caótica e multicor obra de Filipi Filippo como arte de capa.
Solta o play, e continua com a gente!
Escute também no Soundcloud ou faça o download no site da Lezma Records.
Através das cores, nota-se a intenção da banda em guiar o ouvinte para a multi-percepção dos sentimentos emaranhados em cada composição do disco, e a arte de capa é certeira em elucidar o conteúdo e carga emocional que o álbum urge ao ser de fato escutado.
“EX LUX“, como nome e conceito do álbum, surgiu ainda antes da ideia de divulgar cada composição em separado, mas já existia esse tom de enxergar diferente conforme cada ângulo, cada percepção, cada tipo de claridade ou luz dirigida. É a casualidade que foge da composição. O ver além. É aquilo que não procuro mas aparece, é o acaso que me perturba e que me abre ao abismo secreto das imagens. Aquilo que eu não vejo diretamente, mas que quase posso tocar.
Imaginamos isso para cada composição, e as deixamos meio livres e individualizadas, para que cada um sentisse como pudesse, da mesma forma como ninguém enxerga uma cor igual a outra, ou da mesma maneira como sabemos que as cores, em verdade, sequer existem.
Além disso, existe uma pessoalidade singular de que um dos integrantes produz sempre uma forte relação de sinestesia com cada música, transformando cada frase musicada em conjunção sensorial . De fato, para essa pessoa cada música tem realmente aquele tom escolhido de cor, é sua representação como poesia sinestésica. – Thiane Nunes
O conjunto da obra (som e imagem) demonstra o cuidado da banda em buscar exaltar todo(s) o(s) significado(s) por trás do novo trabalho. Em cada canção de “EX-LUX” somos agraciados com harmonias e detalhes sonoros que fazem as faixas conversarem entre si, resultando em um disco coeso, de peso e completo em si mesmo.
A EX em “EX LUX” é: Guilherme Klamt, Thiane Nunes, Rafael Martinelli, Cristiano Sertório, Julio Leal, Rodrigo Souto, Stefano Fell, Jakelina Soares, Thomas Dreher e Alexandre AG.
Ex Lux, entre cores, luzes e sombras | Carlos Zanettini
Como leitura complementar, deixamos abaixo a resenha do músico e compositor Carlos Zanettini sobre o disco “EX-LUX“. Belas palavras sobre um belo álbum (saiu primeiro no Seguinte):
Entre tantos ontens | vinte anos passaram. A impressão que eu tenho ao ouvir Ex Lux é a de que esses vinte anos foram condensados em uma única obra hermética e brilhantemente amarrada, inundando os sentidos com uma ampla gama de sensações e cores que só uma banda madura como a Ex poderia propiciar aos seus ouvintes.
É o trabalho de uma banda em seu auge, onde claramente cada acorde, cada palavra e cada entonação transmite exatamente a mensagem a que se propõe – sem que haja, no entanto, uma figura ou um tema central.
Parte do meu aprendizado convivendo com a banda é estabelecer essa difícil conexão sem perder a generosidade da troca, mas também mantendo a essência original de seu núcleo duro.
O álbum abre com o petardo Amém, que estabelece um padrão de fraseados que irá se repetir durante o disco, com o mantra A feiura é lei lembrando constantemente do horror e da delícia que é viver em um trem desgovernado rumo ao abismo.
No entanto, estetas que são, há aquele sentimento quase zen-budista de abraçar o caos e torná-lo não apenas suportável, mas também extrair toda a beleza que há. Criar espaços de conforto no olho do furacão.
A música captura essa que é para mim a essência da banda, a compreensão holística da existência humana como um troço terrível e delicioso ao mesmo tempo, abraçando a vida em sua plenitude de dor e de gozo.
E sabendo que existe mais, muito mais.
O disco segue com Mormaço, uma canção que foi crescendo gradativamente em mim e que hoje é uma das composições chave para a compreensão do Ex Lux.
A cadência repetitiva, quase mecânica, sobre uma letra que evoca uma nostalgia daquilo que eu nem vivi. Ecos da Deus e o Diabo, aquela sensação de que “o sol chegou mais uma vez primeiro”. Aquele horroroso primeiro raio de sol da manhã, o que me leva a voluntariamente a querer fechar as janelas e negar a vida como ela se apresenta.
Isso é tudo que existe?
No entanto, Graça, a faixa seguinte, revela a resiliência e o desejo transformador da banda, o eterno embate entre luz e sombras, algo que já está conceitualmente presente na capa do disco e na brilhante estratégia de lançar as músicas com uma cor correspondente.
E se percebe ainda como tudo foi intuitivamente planejado, a começar pelo timing absurdo do lançamento das músicas, o que só corrobora minha tese de que as canções chegam em nossas vidas no momento exato em que elas deveriam chegar, quase como entidades espirituais, dotadas de vida própria.
Verdades que se revelam.
Segundo Andar e Bi trabalham essa dualidade, a começar pelas sonoridades, ora esperançosas, ora absolutamente dissonantes.
Saliento como o trabalho instrumental reflete conceitualmente a alma do disco e a mensagem que se quer passar.
Trata-se de uma banda no sentido real da palavra, onde todos estão emocionalmente envolvidos em um nível que beira à psicomagia.
Agda, com referências às ancestralidades, segue nessa toada de reconhecimento e aceitação da própria dor e da respectiva cura, dessa vez sintetizadas no corpo de um animal espiritual.
Só ouvindo para entender.
Por outro lado, Casa da Árvore não tem racionalidade alguma. É aquela canção que sempre me leva às lágrimas especialmente pela lembrança de que “nada parece melhor agora do que estar aqui”.
Estar REALMENTE presente, enfim.
É curioso como o disco percorre alguns lugares bastante incômodos para chegar a esse local da infância, inocência perdida, retorno a si mesmo. É uma mensagem bastante poderosa que é formalmente encerrada em Ontem, um acerto de contas com o passado e, acima de tudo, uma visão bastante generosa de tudo que se viveu durante esse tempo e como, de uma forma muito estranha, tudo valeu muitíssimo a pena.
Um disco de cura espiritual, uma jornada profunda de autoconhecimento de um grupo de pessoas que está em um processo de expurgo e de restauração e que sabe que, mesmo com todo o horror, é bom estar aqui.
CHEERS!
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