Entrevista: conversamos com Jean Hussein sobre seu novo projeto Chà de Flor
Chà de Flor
A Chà de Flor é uma banda de Tramandaí/RS, que conforme sua descrição no perfil do projeto no Soundcloud, é uma “banda de Rockesquizóide do mundo com influências ondinas, psicodélicas, talvez progressivas“.
O projeto tem como idealizador Jean Hussein (Poeira Cósmica, Arrego Bebeléu, Bad Drongos) em busca de um projeto mais pessoal, após o término da Poeira Cósmica. Hussein faz o vocal, guitarra e teclado, sendo acompanhado atualmente por Lawrin Ritter, no baixo.
Recentemente tivemos uma amostra do que vêm por aí, com o lançamento do primeiro som do projeto. A música “Mendigos” conta com “guitarras de phaser, riff repetitivo, letra de crítica social” e você pode escutá-la logo a seguir:
Na sequência, vocês podem conferir um bate papo que tivemos com a mente por trás da Chà de Flor. Foi abordado assuntos sobre o próprio projeto e sobre o cenário independente local (litoral norte gaúcho) e em uma visão mais geral.
Entrevista: Jean Hussein (Chà de Flor)
LoFi in High: Dando início a nossa pequena conversa, quem é a Chà de Flor?
Jean Hussein (Chà de Flor): Chà de Flor é Lawrin Ritter e Jean Hussein, inicialmente.
LoFi in High: Então há chances de novos integrantes juntarem-se ao projeto?
Jean Hussein (Chà de Flor): Sim. Precisamos de mais integrantes para tocar ao vivo. Já temos nosso querido Jacson Milani (ex Arrego Beleléu) na outra guitarra para shows e estamos “contratando” baterista e tecladista. Já temos amigos em mente.
LoFi in High: Massa! É sempre muito legal quando conseguimos encontrar e juntar gente disposta a dividir ideais e ideias.
Jean Hussein (Chà de Flor): Verdade.
LoFi in High: Bom, sabemos que você já tem uma bagagem de outros projetos como a Poeira Cósmica, Bad Drongos e Arrego Beleléu, todas com um toque de experimentalismo e diferencial. O que a experiência com estes projetos contribuiu para a criação da Chà de Flor?
Jean Hussein (Chà de Flor): Essa vontade toda conquistada de ter um projeto mais pessoal. Antes mesmo da Arrego e Bad Drongos tinha a Poeira, mas dividia as composições com o Ézio, e era muita gente, 5 integrantes, daí facilitou algum desentendimento e acabou. Queria continuar com esse meu projeto no qual canto e criei a Chà de Flor justamente para isso.
LoFi in High: Dentro do cenário musical alternativo, tanto nacional quanto internacional, tivemos uma “pequena acensão” da música indie/psicodélica. Apesar de um exemplo preguiçoso para confirmar isso, podemos citar a chegada do Tame Impala ao mainstream de uns anos pra cá. Já no cenário brasileiro, observamos a chegada de projetos como por exemplo o dream pop do Containers (que promete material novo para esse ano), a Céus de Abril (que puxa bastante para o shoegaze) e a brasiliense Lista de Lily, sem contar é claro a alienígena Siléste. Vocês acreditam nisso? O alternativo está tendo o seu espaço ou é ilusão? E o que a Chà de Flor tem a ver com essa história toda?
Jean Hussein (Chà de Flor): Cara tem tudo a ver pois me inspiro muito nesse contexto alternativo. Acho que quando a música é boa e bem tocada, quando o trabalho é levado a sério e com conteúdo o espaço é garantido. Um outro exemplo disso é o Boogarins, acho que há espaço para todos.
LoFi in High: Partindo pra uma realidade mais próxima agora, sobre a cena local artística em que a Chà de Flor está adentrando (litoral gaúcho), qual a visão de vocês sobre a situação atual? Falta mais incentivo político com a produção de eventos culturais mais abertos, iniciativas privadas de contra-cultura popular, ou mesmo uma maior presença e incentivo do próprio público?
Jean Hussein (Chà de Flor): Falta tudo isso que tu citou, incentivo político, iniciativa privada, e presença de público. A cena local artística se auto sustenta tomando a iniciativa de criação de espaços para shows, tudo é muito independente aqui no litoral norte. No ano de 2013 e 2014 houve uma ascensão da cena em Imbé, Tramandaí e Osório muito forte, com bandas como aNNaLog, Poeira Cósmica, Snow Twins, Arrego Beleléu, organizando e tomando frente nos eventos. Trazendo bandas de fora que se tornaram amigas, como EX (POA), Siléste, Samsara Voyeur e Egoraptors (Brasília), mas infelizmente esse vulcão adormeceu com a falta de espaços e separação das bandas. Esse cenário do litoral é muito rico e cheio de músicos, haverá um momento que ele acordará novamente e os espaços serão criados. Um exemplo disso é o Grito Rock edição Imbé que está marcado pra fevereiro.
Chà de Flor em estreia no evento “O Sopro do Jardim” – foto por Larissa Teixeira
LoFi in High: Torcemos muito pra que isso aconteça! Sobre festivais, foi uma grata surpresa o anúncio do Grito Rock em Imbé mesmo. Outro festival de tradição é o “Queen Rock Fest‘ produzido pelo pessoal da Projeto Q, que sempre busca movimentar a cena também. Você citou duas bandas tradicionais da região que estão pra lançar material novo muito em breve (EX e aNNaLog). Podemos observar por aí muitos projetos independentes ganhando vida, que mesmo com produção caseira (home studio) conseguem uma qualidade invejável. Mas sabemos que existem muitos outros projetos ainda engavetados, mesmo com todas as ferramentas necessárias mais acessíveis do que nunca (gravação e divulgação). Como a Chà de Flor enxerga essa situação? E o que vocês tem a dizer para quem sabe encorajar essa galera a começar a produzir também (ou novamente)?
Jean Hussein (Chà de Flor): Gravar em estúdio é caro e longe, tem estúdios bons na região como o UFO em Capão da Canoa/RS, mas parece ser o único no litoral norte que foca mais no rock. Tem o Alepa em Osório, entre outros, mas acho que surge a necessidade de tu fazer as coisas como tu gosta, de um jeito mais simples, sem gastar tanto e sem se deslocar muito. Um computador, um programa de gravação, as gravações caseiras podem ficar muito boas aprendendo as usar esses programas que hoje é fácil de se conseguir na Internet. Acho que isso tudo tá se tornando prático, eu gravo na casa de um amigo que manja de gravação e assim que se começa, acredito.
LoFi in High: Bom, acabamos de receber a primeira amostra da Chà de Flor com o lançamento da suave e viajante faixa “Mendigos“. Com isso já podemos sentir um pouco do que vem por aí. Conte-nos, como é o processo de criação e o que podemos esperar para os futuros lançamentos?
Jean Hussein (Chà de Flor): O processo de criação é bem espontâneo, pego o violão ou ligo a guitarra e qualquer riff pode virar música, ou pode ser esquecido (como acontece muitas vezes). Gravo geralmente no computador num programa mas acabo deixando de lado muita coisa, foco no que acredito e não importa o tempo que leve pra ficar pronto. O que vem por aí é essa incógnita que nem eu mesmo sei, tenho algumas músicas que pretendo reformular e dar uma cara mais dançante (só isso de spoiler uahauah).
LoFi in High: Pode crê hahaha. Chegamos ao fim da nossa conversa sobre o início da história da Chà de Flor. Muito obrigado pelo tempo disponibilizado e sinta-se livre para falar e fazer o encerramento.
Jean Hussein (Chà de Flor): Opaaaa legal cara, valeu pela oportunidade e que dure muito esse teu projeto que é de grande valia para a cena. Obrigado!
CHEERS!
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