Amao Quartet: trabalhando a música experimental através de guitarras
Amao Quartet
O Amao Quartet foi fundado em meados de 2014 em Porto Alegre/RS, e vêm abordando o uso de guitarras elétricas de uma forma não convencional, onde, através de experimentalismo, interpreta músicas contemporâneas de concerto e realiza performances totalmente improvisadas com seus quatro guitarristas.
Formado por Glauber Kiss de Souza, Daniel de Souza Mendes, Igor Dornelles e Pedro Guerreschi Paiva, músicos experientes com formação acadêmica, o quarteto vêm realizando um trabalho experimental muito interessante. O grupo visa tanto colaborar para o reconhecimento da guitarra elétrica perante os estudiosos da musica acadêmica brasileira, quanto ganhar o reconhecimento da improvisação livre e da música contemporânea pela comunidade de guitarristas da cena popular/rock/jazz.
Com um repertório que consiste em composições do século XX e XXI, criações coletivas e improvisações, o quarteto já realizou diferentes concertos e apresentações, como nos festivais “Fête de La Musique Porto Alegre” e “XIV ENCUN – Encontro Nacional de Criatividade Sonora”, estreando ainda peças inéditas de compositores do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba, além da première brasileira do ciclo “six graphic scores”, escrito pelo compositor americano John Teske.
(des)Virtua Tour
Em 2016, o Amao Quartet realizarou a “(des)Virtua Tour”, passando pelas cidades de São José dos Campos, Campinas, São Paulo, Mogi das Cruzes e Porto Alegre. Nesta turnê o grupo realizou concertos com participação virtual de alguns integrantes via aplicativos de troca de mensagens para smartphones, como o próprio grupo comenta:
“A ideia que gerou a ‘(des)Virtua Tour’ consistiu na utilização da tecnologia como ferramenta para possibilitar a participação de todos os integrantes do quarteto em todos os concertos da turnê. Utilizamos o aplicativo Whatzapp para receber áudios em tempo real do Igor e Pedro (em São Paulo, Campinas, São José dos Campos e Mogi das Cruzes) e do Daniel (em Porto Alegre), executando-os durante as músicas que criamos especialmente para a turnê.” – Amao Quartet
Conforme o grupo explica, tudo foi pensado para que a troca de mensagens não fosse algo gratuito, e sim, uma ferramenta de interação a serviço da música. As guitarras utilizadas pelo quarteto eram preparadas e possuíam pequenas bobinas de fones de ouvido acopladas nos captadores, assim, os sons recebidos no aplicativo Whatzapp eram tocados pelo celular e captados pela guitarra, podendo ser processados pelos efeitos ao vivo.
Outro aspecto importante da turnê foi a utilização de diversos objetos para criação de sons não convencionais nos instrumentos dos integrantes, uma iniciativa bastante interessante que caracteriza ainda mais a experimentação durante a execução das músicas do grupo.
Entre os objetos utilizados estavam uma lanterna com dínamo, barbeador elétrico, escova de dentes, pente, língua de sogra e até uma arena de “tazos-pião” amplificada e processada por meio de um captador de contato. Como extra, ainda houve a participação do compositor e guitarrista Martin Herraiz em Mogi das Cruzes e do compositor e guitarrista Felipe Ferla da Costa em Porto Alegre.
Improcreations
Em 2016 foi lançado o debut album do Amao Quartet, chamado “Improcreations”. Este trabalho está disponível nos principais serviços de streaming e lojas virtuais, como a Google Play (onde custa apenas R$8,99). Faixas extras também podem ser encontradas no perfil do Soundcloud do quarteto!
O compositor erudito Martin Herraiz escreveu esta crítica especialmente para o LoFi in High:
“Em seu álbum de estreia Improcreations, o quarteto de guitarras portoalegrense Amao Quartet apresenta quatro criações coletivas, resultado de um processo colaborativo de um ano entre os integrantes do grupo. Em cada faixa, os sons das guitarras se fundem e interagem de diversas formas, criando universos sonoros singulares, que conseguem manter uma coesão sem abrir mão da variedade e da experimentação. Em essência, trata-se de um álbum de música improvisada, que, no entanto, chama a atenção pela abordagem econômica e despretensiosa: a música do Amao Quartet tem um forte apelo lúdico, quase ingênuo (no bom sentido), que traz ao gênero um frescor muito bem vindo.
A miniatura “O.U.a.T.i.Po.A.” (Once Upon a Time in Porto Alegre), faixa de abertura do álbum, é talvez a mais “didática”. Esta peça se inicia com uma textura bastante sutil, em que um dos guitarristas se destaca brevemente como solista; em um interessante processo de saturação do espaço sonoro, os sons das quatro guitarras gradualmente se fundem em uma grande nuvem de reverb e distorção, que parece se dispersar, ao final da faixa, com um simples sopro.
Seguem-se duas peças breves e contrastantes, “0002” e “TrVdIcI0nVl”. A primeira destas, bastante experimental, explora técnicas inusuais de tocar o instrumento, que resultam ora em sons percussivos, ora em ruídos contínuos, aos quais se somam sons mais convencionais, como acordes marcados utilizando cordas soltas. A segunda, como o nome sugere, é bem mais “tradicional”: trata-se de uma música de caráter pulsante e enérgico, que inicialmente parece remeter ao minimalismo de Terry Riley e Steve Reich, mas é gradualmente “enriquecida” com a introdução de cromatismos, dissonâncias e sobreposições de ritmos irregulares. Assim como a faixa de abertura do CD, é uma peça bastante linear, porém mais “focada”, quase unidirecional.
A faixa conclusiva, “Terremoto”, dura quase o dobro das outras três juntas e surpreende tanto pelo caráter lento e introspectivo quanto pela imensa gama dinâmica – ambos aspectos pouco comuns na música feita por guitarristas! Com efeito, boa parte da peça é ocupada com sons que vão do inaudível ao pianissimo e, durante alguns minutos, a não ser que se esteja utilizando fones de ouvido no volume máximo, o ouvinte pode ter a impressão de que o CD já acabou. A partir da metade da peça a textura começa a se transformar radicalmente; os dramáticos minutos finais, com suas explosões de sons graves separadas por longas ressonâncias, remetem fortemente à música do compositor italiano Giacinto Scelsi. É uma peça que exige uma escuta atenta e meditativa, transitando por paisagens sonoras de uma sutileza tão espontânea quanto minuciosa, tão cativante quanto complexa” – Martin Herraiz, 18/02/2017
Para acompanhar mais de perto este interessante projeto que vem buscando romper as barreiras entre a guitarra e a música experimental em nossas terras tupiniquins, acompanhe a página do Amao Quartet no Facebook!
CHEERS!
Últimas postagens de Felipe Espindola de Borba (ver todos)
- Documentário: #10controle na Borússia – Piratas Siderais – 10 ANOS - 28/03/2025
- Cobertura – Som na Praça – 8ª Edição - 06/06/2024
- Mural Independente #01 - 18/03/2024
Deixe um comentário